O querer em Bartleby, the Scrivener e a Civil Disobedience de Henry David Thoreau
- Jéssyca Santos
 - 16 de ago.
 - 3 min de leitura
 

Situada em uma Wall Street, mas precisamente uma sala de advocacia fechada na qual cada trabalhador também se encontra em ambientes isolados e de certa forma claustrofóbico, o conto de Melville apresenta a personagem de Bartleby, pela perspectiva de seu empregador. Bartleby trabalha inicialmente bem, de forma dedicada, mas com o passar do tempo seu empregador nota a apatia e falta de ânimo atingir seu empregado até o ponto deste se negar a fazer o que lhe é ordenado, causando mal estar e estranhamento em todos, inclusive em seus colegas. Seu chefe procura várias vezes entender as motivações pelas quais Bartleby se nega a obedecer e realizar as tarefas que outros ali realizam sem mesmo questionar, mas diante da resposta “I prefer not to” ele se vê sem ter como obrigá-lo. Sobre isso Thoreau fala sobre a natureza do homem e em como a força não é eficaz para mudar sua vontade.
Thoureau foi, escritor, abolicionista, naturalista e entre outras coisas também amigo próximo de Ralph Waldo Emerson, escritor e do qual assimilou ideias do Transcendentalismo (movimento que se desenvolveu na América do Norte o qual defendia uma exaltação ao indivíduo e suas relações com a natureza).
Seguindo suas convicções, deixa de pagar os impostos que eram cobrados pelo governo e destinados à guerra contra o México. Guerra que o escritor era contra e como resultado ele é enviado a prisão, lá reflete sobre o governo e suas punições. Assim, “On the Duty of Disobedience” é concebido. Esse texto demonstrou-se atual em diversas épocas e países, inspirando várias personalidades históricas como Gandhi, em sua luta pela independência da Índia, e Martin Luther King, em defesa do fim da segregação racial.
Em “On the Duty of Disobedience” o autor reflete sobre o homem e como este pode ameaçar um governo, que ao invés de proporcionar a harmonia, incomoda a existência ao não cumprir seu papel de governar para o cidadão. A ameaça se dá quando homem simplesmente exerce sua vontade contrariando o governo, quebrando assim um sistema estabelecido. Pois, questionar e se negar a obedecer pode até acarretar por parte do governo um castigo físico (como uma prisão, por exemplo) que, de acordo com o autor, não chega a ser tão eficaz, pois não muda o querer individual.
“Must the citizen ever for a moment, or in the least degree, resign his conscience to the legislator? Why has every man a conscience, then?”. (THOUREAU, 1849)
Thoureau questiona o governo e seu modo de governar, não visando o bem estar dos governados, mas de uma pequena parcela que detém o poder, sendo assim ineficaz para seu propósito.
“For government is an expedient by which men would fain succeed in letting one another alone; and, as has been said, when it is most expedient, the governed are most let alone by it.” (THOUREAU, 1849)
É esse questionar um sistema coercitivo que oprime sua própria natureza como homem e cidadão que está presente na obra de Herman Melville “Bartleby, the Scrivener”.

I was not born to be forced. I will breathe after my own fashion. Let us see who is the strongest.
Não nasci para ser forçado a nada. Respirarei a meu próprio modo. Vamos ver quem é mais forte. (Thoreau)
Assim como o governo, o chefe de Bartleby não tem forças para obrigá-lo pois:
“This American government,[…] It has not the vitality and force of a single living man; for a single man can bend it to his will.” (THOUREAU, 1849)
Ou seja, Nem mesmo a punição imposta pelo governo pode mudar o querer do homem. Talvez, a apatia da personagem ocorra a partir de uma contestação de sua natureza e sua recusa de ser apenas mais uma pessoa em um sistema opressivo, então começa a preferir à morte a fazer o que lhe é ordenado.
“A wise man will only be useful as a man, and will not submit to be “clay,” and “stop a hole to keep the wind away,” but leave that office to his dust at least:” (THOUREAU, 1849)
Como consequência a personagem de Bartleby é excluída da sociedade por meio da prisão, pois não sabiam o que fazer com quem não obedece a suas regras. Lá, Bartleby continua a se recusar a fazer o que se espera dele, mesmo comer e encontra seu fim na morte.
If a plant cannot live according to its nature, it dies; and so a man. (THOUREAU, 1849)
Ou seja, a força do sistema ou do governo é apenas física, como diz Thoureau, a sociedade sem saber o que fazer com quem recusa a agir segundo suas regras prende, como aconteceu com Thoureau e Bartleby.





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